Especial de Fim de Ano no Cinamacitando: 1º Lugar

O segredo de seus olhos (El secreto de sus ojos), de Juan José Campanella

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Indicado e vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, O segredo de seus olhos consegue a primeira posição de melhor filme assistido em 2014 no especial de fim de ano no Cinemacitando!

“Como se faz para viver uma vida vazia? Como se faz para viver uma vida cheia de nada?”

O filme trata de uma investigação policial de um crime ocorrido em 1974, que nunca de fato foi concluída. No presente se encontra Benjamín Espósito (Ricardo Darín) já aposentado, em 1999, escrevendo sobre o caso que mais marcou sua carreira como funcionário público do Fórum Criminal de Buenos Aires. Passado e presente se misturam constantemente enquanto Espósito tenta recapitular o que aconteceu naquele ano com uma bela moça, Liliana Colotto (Carla Quevedo), que na década de 70 foi estuprada e assassinada por um homem misterioso.

O título do filme sugere sobre o que se trata o longa. São os olhos daqueles personagens que guardam os segredos que os compõe. A forma como o assassino nega a culpa, e consegue de certa forma se absolver do crime (pelo menos pela parte do sistema legal argentino), não consegue livrá-lo da suspeita de ter matado Liliana, isso porque os olhos dizem e confessam o que o homem tenta esconder. Da mesma forma, Espósito apresenta um olhar vazio. Nunca realizou e nunca realizará seu amor por Hastings, apesar de passar sua vida inteira olhando-a com desejo, porque teme a vulnerabilidade resultada do entregar-se a alguém. Ele teme, e por isso mesmo nunca conseguirá dizer “Eu te amo” e sim “Eu te mo” – seria por isso que a letra A de sua máquina de escrever não funciona?

Além das questões de justiça, amor e vingança, temos também como plano de fundo o retrato do sistema judicial argentino, que harmonicamente também poderia ser representativo de qualquer sistema judicial de qualquer nação latino-americana – basicamente, a incompetência, a injustiça e o “trabalho porco” de “pseudo trabalhadores” que não entendem que erros grotescos de julgamento e a falta de assertividade em seus empregos causam perdas irreparáveis à população e mexem negativamente com o bem estar social. Esses “pseudo trabalhadores” não se acanham quando querem resolver um caso prontamente, atrapalhando outros servidores que talvez consigam fazer seu trabalho de forma justa. Diante disso temos a eterna luta de quem busca a justiça contra os que vão na contra mão por motivos individuais, o vazio nunca preenchido que é o lutar entre diferentes interesses em um meio social.

A pergunta que se fica é aquela feita no começo do post que foi proferida por Espósito no filme. Como fazer para viver uma vida vazia? Uma vida sem amor? Uma vida sem justiça? E o mais importante, se o seu olhar denunciada a forma como olhas para o mundo, seriam os olhos a revelação do mundo interior contido em cada um de nós?

Escrito por Raquel Ribeiro

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